quinta-feira, 7 de maio de 2009

Os grandes clássicos enjoaram? experimente devolvê-los ao contexto original: volte a ouvir um álbum inteiro…

Hendrix
Eu não sei quantos anos você tem. Mas se tem mais de 30, deve ser ainda do tempo que se comprava cds e voltava pra casa ansioso para ligar seu cd player e poder degustar sua nova aquisição por completo. Na verdade, como eu tenho mais “cabelos brancos”, eu sou ainda do tempo dos bolachões, ou vinis, ou os antigos Long Plays, mais conhecidos como LPs. A história era a mesma, mas contava com alguns ingredientes a mais por conta de uma operação mais “complicada”, digamos assim, para começar a apreciação.
Existe aqui o chavão do saudosismo, mas independente disso, a história vai servir para o que pretendo expor.
Beatles puzzleHoje em dia, com a popularização dos downloads de arquivos mp3 (e seus derivados) e dos iPods da vida, certamente a maioria esmagadora das pessoas passou a montar um arquivão desconexo com centenas e mais centenas de músicas perdidas e fora do contexto dentro de seus players.
Sem querer forçar uma regra, muitos provavelmente não sabem dizer o nome da maioria das bandas ou músicas que ali estão. Não sabem de que álbum foram pinçadas, e o mais triste, em muitos casos, do contexto e do clima que foram retiradas e criadas.
Se fosse aprofundar mais ainda esta linha de observação, não só perde-se o que foi citado, mas também a arte do álbum, quem o gravou e mixou, o que foi usado, e muitos outros detalhes, que lhe surpreenderiam dentro do panomara que estou desenhando. Poderiam até lhe interessar se você estivesse apreciando nas mesmas circunstâncias de quando ainda tinha-se que parar um pouco e ter este trabalho de preparar um cd player, e retrocedendo um tanto, os velhos toca-discos, antes de começar a escutar música.
Nesses “não tão longinquos tempos”, não tínhamos acesso a qualquer música e a qualquer álbum, tanto pela falta das rápidas conexões e condições técnicas para isso, como pela condição financeira média para adquirir seu Cd / Lp. Montar uma discoteca (ou “cdteca”, como quiser) básica era algo bem mais pessoal, e Purple Puzzlecomo você seria forçado pelas circunstâncias a escolher alguns exemplares (dentre tantos que gostaria de obter), criava-se assim um acervo particular e totalmente personalizado, que eventualmente poderia bater com alguns ítens que os seus amigos houvessem escolhido, mas nunca por completo. Criava-se aí, exatamente por estes obstáculos, uma diversidade interessante, e ao mesmo tempo, uma condição hoje muito abandonada: reunir os amigos para REALMENTE escutar música e trocar informação.
Estas pequenas e agradáveis reuniões continham muito mais do que uma boa desculpa de juntar a galera (que por si só já seria um motivo fantástico), mas é onde dividia-se conhecimento a respeito daquilo que se ouvia, e era onde parava-se para realmente OUVIR a MÚSICA, OLHAR o encarte, FALAR sobre a BANDA, PERCEBER o contexto que se propunha naquele álbum, e, exatamente por isso, escutar o ÁLBUM POR COMPLETO, com tudo que era intrínseco a ele, até mesmo um simples selo ou encarte.
Não estou dizendo com isso que qualquer um que ouviu centenas de vezes a música mais “famosa” daquela determinada banda “famosa”, não pudesse realmente enjoar. Mas, como fazíamos àquela época, você acabava por montar sua coletânea não só baseada nos greatest hits da banda, e sim pinçava as que mais gostava NAQUELE momento, de tudo que ouviu por completo. E nem sempre as mais conhecidas eram usadas pra montar sua coletânea.
Haviam os álbuns de coletâneas lançados no mercado, é claro. Mas se você só tivesse tido acesso a ele, e se te agradasse, quase sempre ia-se atrás do álbum de onde estas músicas foram retiradas. E realmente tem outro sabor quando se escuta a “tal música” vindo atrelada a obra completa de onde ela foi concebida – o famoso álbum.
Quantas vezes não me deparo com algum amigo que “tira o pó” de algum álbum clássico que há muito não escutava por ter “enjoado” de alguma canção, e escuta-o por completo, incluindo “a tal canção que enjoou”, e ao final, comenta: “Putz, não lembrava de como isso é bom”!
Poucas semanas atrás tive esta fantástica experiência com o álbum “Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” dos Beatles. Em um fórum, um conhecido comentava da experiência de ouvir as gravações desse álbum que ele obteve, mas que apesar de digitais, foram retiradas de excelentes Lps sgt_pepperjaponeses, e que ele dizia terem não só outro peso, mas que também a antiga mixagem permitia ouvir algumas coisas que ficaram em segundo plano hoje em dia. Ele compartilhou o áudio conosco e fui ouvir o álbum, do começo ao fim. Há quanto tempo não ouvia essa obra prima dessa maneira, por completo! (E sim, ele tinha razão, escutei vocais fantásticos que nem me recordava que faziam parte de algumas músicas, graças a esta mixagem... pois é... mas isso já dá assunto para um outro bom tópico...)
Ouvir música apenas para lhe tirar a atenção de outra coisa da sua rotina, ou mesmo por que se tornou um hábito como coçar a cabeça enquanto você lê algum texto num blog, e sem saber mais nada sobre isso, pode estar lhe tirando alguns prazeres que você nem sabe que existem...
Isso afeta algumas bandas que fazem covers das tais “mesmas músicas”... Por que será que algumas bandas conseguem criar impacto com algo que já se tomava por batido por muitos, enquanto outras, fazem dessas mesmas canções o exato momento de quem está na platéia evocar o “agora é hora pra eu aproveitar e ir ao banheiro”?
Será que alguns abandonam a mesma energia e dedicação que prestam àquelas músicas que gostam mais? será negligência pessoal com o que ele imagina como “público dessas músicas batidas”? Ou será que a reação causada não é exatamente a resposta à altura de seu modo de olhar para aquilo que nunca prestou tanta atenção? Sabe os tais “detalhes” que lhe chamaram a atenção à época? timbres, frases, sons diferentes, aquela energia... pois é. Tudo que fica ligado no “automático” tem sabor de pizza de microondas.
Floyd puzzleBem, seja como for, fica aqui uma dica: seja você um ouvinte obsessivo do maravilhoso iPod com suas milhares de opções e portabilidade, seja você um integrante de alguma banda que se prestou a fazer este tipo de trabalho que é tocar as músicas que você e tantos outros gostam: experimente ouvir estas músicas novamente (ou pela primeira vez) dentro do contexto que foram criadas. Que tal se dar um tempo pra ouvir aquele álbum que você não ouvia já a algum tempo por completo? Talvez você se surpreenda...
Espero que este texto não seja compreendido como uma defesa da forma de não conhecer novas bandas e músicas, e nem contra a maravilhosa e mais confortável tecnologia atual, mas sim (e também), uma visão de apreciação de tudo que já foi criado, não como algo simplesmente descartável, como o tempo todo boa parte da mídia nos faz crer, mas como obras que ficam.
Como complemento a tudo isso, gostaria de colar o texto que acabo de ler, onde J.J. Abrams, comenta algo que tem tudo a ver com este post:
J.J. Abrams, criador das séries Lost e Fringe e diretor do novo Star Trek: "A tecnologia nos tornou ingratos", escreve Abrams num texto intitulado "A mágica do mistério" (em inglês). Segundo ele, vivemos a Era do Imediatismo e a facilidade de acesso faz com que as pessoas deem menos valor ao conteúdo:
"Antigamente, seria impensável ir a uma loja de música, comprar um disco, voltar para casa e não ouvi-lo. Mas hoje? Quantos de nós baixaram músicas e álbuns que ainda estão esperando, meses ou anos depois, para serem ouvidos na biblioteca do iTunes?"



Abraço!
Marcos “Lelo” Craveiro

sábado, 2 de maio de 2009

“Toca Rauuuuuul!”… Ok, mas só se for “Raul-way Star”!

(ou “Porquê escolhemos tocar o rock  internacional”)

 

Purple e RAUL

 

Pois é, em todos os lugares, sempre que uma banda cover se apresenta, uma coisa é sempre inevitável: Alguém vai gritar da platéia “Toca Raul” !!! E não interessa que a banda só toque reagge, ou só classic rock internacional (ou seja lá o que for), mesmo que por simples galhofa, alguém vai gritar este bordão. E se não gritar, até a própria banda grita no microfone e pede para si própria, ainda que seja para mexer com a platéia. Até o Zeca Baleiro acabou compondo uma música sobre isso. E até eu não resisti e na EXPOMUSIC desse ano que passou, gritei “Toca Raul” no meio do show do virtuoso contrabaixista Stu Hamm hahahHAHAhah. (Ok, foi sacanagem, mas foi divertido, alguns riram, outros quiseram me matar...).

O fato é que dependendo do perfil da banda e do bar, tocar rock nacional é inevitável. Mas, como nossa banda tem outras motivações que a levam a tocar por aí, que não exclusivamente as financeira$, optamos por fazer aquilo que nos empolgava. E até pra tocar o estilo que você gosta, você acaba por fazer concessões, tocando mais músicas óbvias do que normalmente tocaria, e coisas assim.

Mas o que levou esta banda cover a tocar apenas o rock internacional?

Quando resolvi montar uma banda de cover, e não uma banda autoral, imaginei em primeiro lugar, me colocar para tocar ao vivo novamente, pois havia anos que não me apresentava mais, e havia perdido o contato com a situação “palco/público”, com seus prazeres e suas agruras. Tocar com banda te traz uma responsabilidade para com a execução, arranjo, equipamento, memorização das canções, de trato com o “business” e uma disciplina que não teria apenas tocando em casa. Só que tudo isso dá trabalho, e não é POUCO trabalho. Escolher canções que tragam equilibrio entre o que você tocaria com 100% de prazer, com aquelas que, apesar de bacanas, já estão saturadas para o músico, (mas que trazem grande retorno de satisfação com a platéia), não é tão simples, pois ambos – músicos e platéia - devem estar motivados para que o show saia sempre interessante, e é por isso que é fundamental como integrantes da banda, aproximar-nos ao máximo possível da nossa essência musical.

Como guitarrista, minha “praia” sempre foi o rock dos anos 60 e 70, com boas doses das décadas de 50, 80, e por fim, um pouco de 90… E sempre ouvi e toquei estes sons, o que é natural para mim. Quando decidi reunir pessoas para uma banda, as procurei com objetivos e gostos similares, e acho que tive bastante sorte até, pois a banda tem uma porcentagem até alta de compatibilidade naquilo que escuta em casa. Sim, gostamos de rock nacional também! Alguns integrantes da banda mais que outros, é verdade, mas a coisa é um pouco mais entranhada, como tento expor a seguir.

Vou falar olhando sob meu “lado do prisma”, ou seja, pelo olhar do guitarrista da banda. Sabemos (nós, amantes do Rock and Roll) que estes seres peculiares – ou seja, nós, os guitarristas -  nos apegamos a muita coisa além dos maravilhosos riffs de guitarra contidos no rock. Nós adoramos “timbres”, sejam eles de guitarras, de efeitos, de amplificadores, adoramos as várias técnicas empregadas nesse estilo, como afinações alternativas, uso de slide, e-bows, uso de capotrastes, two-hands, harmônicos artificiais, arcos de violino (!), etc,  e amamos as centenas de modelos consagrados de guitarras. Nós realmente subimos nos palcos querendo brincar de tudo isso, e é exatamente o rock clássico, consagrado de décadas, que está recheado desses “quitutes” que tanto nos apetecem!

Mas não para por aí. Além do gosto pela música e pelo que é usado para fazê-la soar desse modo específico, nossa vocação de  xeretas incansáveis nos aproximou com a riquíssima história por trás de tudo isso

Daí, nesse ponto desse longo texto, já deve ter alguém pensando que “o rock nacional tem sua história também, que é boa música, que nós somos preconceituosos”. OK, calma, não me xingue (ainda) se você é um fã do rock brazuca, o texto não se refere exatamente aos famosos e infindáveis embates que tem a (má) intenção inútil de afimar algo como “rock nacional é ruim, rock internacional é bom”.  O rock feito aqui tem muita coisa bacana, e com o passar dos anos teve um avanço em equipamento, timbre, e uso dos efeitos de forma a não ficar devendo para mais ninguém de fora. Você tem músicos excepcionais aqui, acima da média de muitos músicos internacionais consagrados, mas, a história do rock em “terra Brasilis” é bem diferente, e por melhor que seja, não tem a mesma riqueza e importância mundial quando nos referimos a esse estilo em particular, principalmente quando pensamos nas “fontes” de onde bebemos o fraseado do instrumento e da voz, da maneira de se expressar, de onde imitamos os timbres e até mesmo de onde nasceram as primeiras guitarras e amplificadores construídos, sem falar da história do Blues e de todo o panorama político, social e racial exposto nas inúmeras figuras de linguagem de famosas letras que fundamentaram o estilo, além, claro, das históricas gravadoras como Chess, Motown e Atlantic.

Por fim, olhando pelo motivo mais simples e óbvio, nada mais é que apenas uma escolha – gostamos mais do rock internacional de um determinado período – e somado a tudo que ele representou e representa e que tanto nos fascina a ponto de aprofundar o assunto e ir além, optamos subir ao palco e fazer o que achamos mais divertido e honesto. Isso significa, além de nossa motivação, o respeito não só conosco a toda essa bagagem “histórico/pessoal/musical” que há anos nos acompanha e que permite nos expressarmos com maior naturalidade, mas respeito também diante daqueles que vierem nos prestigiar esperando receber exatamente o que divulgamos. E para cada um que tenha essa oportunidade de compartilhar com a gente esta experiência, que possa saborear um pouco dessa grande diversão que é o rock and roll.

Ah! E claro, salve o grande RAUL!!

 

Abraços

Marcos “Lelo” Craveiro